quinta-feira, 4 de julho de 2013

Quem tem medo de ouvir o povo? #PlebiscitoJa

Marcelo Correia - Diretor do Sindieletro MG
Belo Horizonte – 02/07/2013


"Eu semeio o vento, na minha cidade, vou para a rua e bebo a tempestade."
Chico Buarque

Há momentos na história que um desejo de liberdade varre o mundo como uma tempestade, e os jovens tomam as ruas, e pulam tão alto de alegria que parecem que se libertarão da gravidade. Diante de tanta energia o desespero toma conta dos poderosos, que buscam acorrentá-los à terra. No entanto alguns curtem essa memória, e passam a vida a semear o vento na esperança de beber uma nova tempestade.

Nas últimas semanas assistimos impressionados a nova geração tomar as ruas, exigindo melhorias nos serviços públicos, em especial no transporte, na educação e saúde, gratuitos e de qualidade para todos. O susto foi grande, pois vivemos momentos de desenvolvimento econômico e social, com empregos e aumentos de salário sem precedentes na história recente do Brasil.

Rotulamos essa juventude de individualista, despolitizada e desinteressada, mas o sopro da liberdade chegou, e o país do futebol deu lugar à busca dos melhores ideais. O barulho abalou velhas e novas estruturas, a presidenta teve que ouvir as ruas, e em poucos dias o Congresso votou temas que se arrastavam há anos.

Nas primeiras manifestações, a mídia, porta-voz do conservadorismo, prontamente tratou de repudiar e criminalizar os manifestantes e aplaudiu a repressão policial. A velha reação não deu certo, e o sopro tornou-se um vendaval. Mas o poder é tinhoso, mudou de tática, pediu publicamente desculpas e passou a elogiar o povo nas ruas, buscou ganhar a simpatia e a manipular as informações para, enfim, buscar dirigir a revolta para lugar nenhum. Agora, do nada sumiram das televisões as manifestações, voltaram com toda a força para o futebol, endeusando novamente os jogadores. E com a experiência milenar de sustentar seus privilégios, chamam o povo para assistir os gladiadores nas novíssimas arenas. Quanta contradição! Os estádios faraônicos e excludentes foram o estopim da revolta.

A elite toca a cantiga de ninar para adormecer o gigante, antes que ele abale a estrutura do poder.
Ouvindo as ruas, a presidenta Dilma, que cultiva o vento, propôs o plebiscito da reforma política: Qual trabalhador ou trabalhadora tem 4 milhões de reais para se eleger deputado em Minas Gerais, e até mais que isso, em outros estados?

A velha elite, agora chefiada por Aécio Neves, reagiu rapidamente, pois é de conhecimento até do reino mineral que as facilidades e fortunas dadas através da Cemig à Andrade Gutierrez, além das construções do estádio Independência, do Mineirão e da Cidade Administrativa, apenas para citar alguns exemplos caseiros, são garantias de vastos recursos para a mídia e para as campanhas
eleitorais. Só assim se explica como as velhas e desgastadas raposas se perpetuam no poder, e ainda o repassam de avô para neto.

A reforma política assombra o Congresso há mais de 15 anos sem nunca ir a votação; mesmo assim, os jornais contra-atacam o plebiscito com pareceres jurídicos e de políticos para manipular a opinião pública e mostrar que esse Congresso desmoralizado é legítimo para propor uma reforma eleitoral de verdade. A elite busca controlar uma reforma que, certamente, não mudaria nada, e que depois seguiria para um referendo popular, provavelmente em dois mil e nunca.

Rogo a todos que sigam outro bom conselho do Chico Buarque: “inútil dormir que a dor não passa”. Vamos às ruas para gritar bem alto, não podemos deixar o gigante adormecer antes de realizar o plebiscito e, por fim, impedir o controle das eleições pelas empreiteiras, empresas de transportes e multinacionais.

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