RICARDO STUCKERT FILHO / INSTITUTO LULA
O ex-presidente Lula, durante entrevista em que anunciou 'estar no jogo' das eleições de 2014 e declarou confiança em segundo mandato de Dilma
São Paulo – “Se
tem uma coisa que eu tenho vontade é de falar. Eu tenho cócegas na
garganta para falar. E vocês ajudaram a quebrar um tabu, porque
fazia tempo que eu não falava durante tanto tempo. E nunca imaginei
que justamente pra vocês eu fosse dar a entrevista mais difícil.
Estou voltando, com muita vontade, com muita disposição – para
felicidade de alguns, para desgraça de outros. É o seguinte: eu
estou no jogo.” Assim Luiz Inácio Lula da Silva encerrou a
entrevista concedida nesta terça-feira (24) a um grupo de
jornalistas da Rede Brasil Atual, site, rádio e revista, da TVT e do
jornal ABCD Maior.
O encontro ocorreu no
Instituto Lula, durou 90 minutos e foi, segundo ele, a primeira longa
entrevista concedida no exercício da “função” de ex-presidente
da República. Lula abriu a conversa dizendo não haver “pergunta
proibida”, mas pediu que o perdoassem se no excesso de cuidados de
ex-presidente parecesse “chapa branca”. "Ainda estou
aprendendo a ser ex-presidente", disse. Ele comentou a
importância das manifestações de junho, que considera o
acontecimento do ano ao colocar em xeque todos os governantes – das
prefeituras à Presidência da República – e por ter ajudado a
criar uma nova agenda política para o país – apesar do fato de
“alguns” quererem se apropriar das manifestações para
desqualificar a política. “Se alguém chega pra você dizendo
'olha, eu não gosto de política, mas...', pode crer, essa pessoa
está sendo política.”
O ex-presidente
comentou respostas dadas às manifestações, como o Mais Médicos,
teceu duras críticas aos opositores do programa e enfatizou que a
iniciativa cobre apenas uma pequena parte de um grande problema.
Lembrou que o país não dispõe nem de especialistas nem de
tecnologia em diversas áreas, e que não vai resolver os grandes
problemas sem recursos. “Lá atrás, quando rejeitaram a CPMF,
tiraram R$ 40 bilhões por ano da saúde achando que iam prejudicar o
Lula. Mas prejudicaram o povo”, disse, acentuando que o Estado é
quem banca grande parte dos tratamentos dos ricos na rede privada,
quando deduzem suas despesas do imposto de renda, enquanto aos pobres
só resta o SUS.
Lula disse acreditar
que poucos prognósticos poderão ser feitos sobre as eleições de
2014 antes de março do ano que vem, quando já devem estar colocados
todos os nomes das disputas, em nível nacional e nos estados. Um dos
principais articuladores políticos do PT, ele afirma que seu papel
no processo será o “papel que a Dilma quiser” que ele tenha.
Admite ver dificuldades na permanência do governador de Pernambuco,
Eduardo Campos, na base de apoio, vê obstáculos adicionais nas
alianças com o PSB em alguns estados, como Ceará e Pernambuco, e
vai considerar um grande feito, uma vez consolidada a ruptura, que os
partidos façam um pacto de não hostilidade nos palanques em que
forem adversários.
Para Lula, a mais
importante das reformas do país é a política, com o fim do
financiamento privado de campanhas. “Vocês veem as grandes
empresas fazendo campanhas contra o financiamento privado? Vocês
veem empresários reclamando que não querem contribuir com campanhas
eleitorais?”, questiona. Ele reconhece que a atual composição do
Congresso não tem interesse nem força para fazer uma mudança
impactante no sistema político-eleitoral porque põe em risco os
próprios atuais mandatos. “Uma reforma para valer não vai
acontecer agora. Por isso, vai ter de ser feita por meio de uma
constituinte exclusiva, com ampla participação da sociedade.”
E abordou também a
necessidade de um novo marco regulatório das comunicações – “há
um projeto, o Paulo Bernardo disse que ia fazer debates públicos,
mas não andou...” –, lamentou a ausência de projetos do governo
do PSDB para o estado e a região metropolitana de São Paulo, e
criticou a forma como “alguns” tentam “transformar coisas boas
em coisas ruins”, referindo-se à realização da Copa de 2014 e
dos Jogos Olímpicos de 2016 no Brasil.
O ex-presidente foi
cauteloso ao comentar o julgamento da Ação Penal 470, o chamado
mensalão, porque diz ter de respeitar as instituições envolvidas
na questão. “Depois que o julgamento estiver totalmente concluído
eu vou falar. E tenho muita coisa pra falar”, disse, ressalvando
que, no que diz respeito à abordagem política do caso, os acusados
já foram condenados há muito tempo.
A TVT exibe os
principais trechos da entrevista no programa Seu Jornal de hoje, que
vai ao ar às 19h e pode ser visto no canal 13 da NET na Grande São
Paulo, ou no site. Amanhã (25), a Rádio Brasil Atual também
veicula outros momentos da entrevista, no programa que pode ser
ouvido a partir das 7h em São Paulo (FM 98,9), litoral paulista (FM
93,3) e noroeste paulista (FM 102,7). Logo mais, à noite, a RBA e o
site do ABCD Maior publicam a íntegra da entrevista.
Fonte: REDE BRASIL ATUAL
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