Variáveis
macroeconômicas são ingredientes à espera de um projeto de Nação.
Quem decide a receita
do desenvolvimento e da sociedade é a luta política.
Uma arma crucial do
embate é a formação das expectativas.
No Brasil hoje, são
elas que podem mover ou travar a engrenagem decisiva do investimento
na esfera industrial e na infraestrutura.
Num caso, o país
retoma o crescimento ancorado em bases consistentes.
No outro, o pessimismo
estreita o horizonte do futuro e afoga a Nação na liquidez
rentista. A espiral descendente do emprego e do consumo cuida do
resto, conflagrando a inquietação social.
É a disjuntiva dos
dias que correm.
A guerra das
expectativas dispara mísseis que cruzam os céus do imaginário
social ininterruptamente.
A quarta frota desta
guerra é a área na qual a influencia conservadora desequilibra o
jogo a seu favor: o comando do noticiário em geral; o da economia,
em particular.
Dados auspiciosos do
IBGE sobre o PIB do segundo trimestre foram recepcionados com um
muxoxo pela emissão conservadora: ‘resultado surpreende o
mercado’.
Modéstia.
O resultado não
surpreende, ele o decepciona.
Um desastre econômico
de proporções ferroviárias é vaticinado há meses pela endogamia
da mídia com a corriola das consultorias e a pátria financeira.
O lubrificante ora é o
dólar no mercado futuro. Ora a AP 470. Ora a 'invasão' da saúde
pública por 'escravos de Fidel', desembarcados de ‘aviões
negreiros’. Assim por diante.
A impressionante
expansão de 9% do investimento no 2º trimestre, comparado ao mesmo
período de 2013, trouxe ao crescimento de 1,5% do PIB uma qualidade
há muito requerida pelo país.
O incremento de
capacidade produtiva avançou bem acima da variação do consumo das
famílias (2,3%) e o do governo (1%).
É a calibragem correta
para uma expansão de longo curso.
Aquela que não desanda
em pressões inflacionárias porque a oferta caminha adiante da
demanda.
Não significa que a
matriz de um novo ciclo está consolidada. Estamos longe disso.
O Brasil acumula
pendências cambiais e de logística que emperram o motor do seu
desenvolvimento.
A economia tem gargalos
objetivos; oscila em altos e baixos à procura de uma nova coerência,
como mostra a montanha-russa do desempenho industrial.
Mas o PIB que
surpreendeu a narrativa derrotista comprova que a fatalidade
conservadora não é um dado de natureza.
É um ingrediente da
luta política em curso, abastecida com a pólvora das expectativas.
O conjunto manipula a
incerteza intrínseca ao cálculo econômico de longo prazo no regime
capitalista.
A sinalização
financeira a quem caberia clarear a neblina do futuro, age para
cegar. Seu alto-falante midiático cuida de afligir.
Um lucra com a
especulação nutrida pela incerteza; o segundo, com o rebate
conservador que o pânico injeta nas pesquisas eleitorais.
Significa dizer que a
batalha do crescimento não será vencida no âmbito exclusivo das
medidas econômicas.
Se o governo não se
despir do economicismo, perderá a guerra. Ainda que tome as medidas
tecnicamente adequadas à retomada do crescimento.
O contrafogo das
expectativas negativas pode por tudo a perder.
Guardadas as
proporções, vale lembrar: Puttin, na Rússia, colocou no ar uma
emissora estatal que dispõe de orçamento de US$ 300 milhões/ano. E
um quadro de dois mil contratados.
Guardadas as devidas
motivações, cumpre insistir: esse é o tamanho do jogo.
Nunca é demais
repetir: a coerência macroeconômica quem dá é a correlação de
forças da sociedade, que tem na formação das expectativas um de
seus ordenadores decisivos.
Quem fizer a leitura
política do noticiário econômico enxergará a queda de braço em
curso.
De um lado, iniciativas
oficiais procuram desbastar o caminho para um novo ciclo histórico,
ancorado no impulso do investimento com maior equidade social.
De outro, os interesses
que tentam direcionar a encruzilhada atual para a regressão ao
modelo dos anos 90: privatizações, Estado mínimo, arrocho social,
alinhamento carnal com geopolítica e a economia imperial
norte-americana.
Nunca será fácil
converter as conquistas e aspirações de uma época à paz
salazarista cobiçada pelos ‘mercados’.
A saber: um cemitério
social rígido como o eletrocardiograma de um morto, associado à
apoteose rentista da nação à serviço do dinheiro.
Fomentar a crise de
confiança é a pedra basilar dessa arquitetura.
Dar a isso a
abrangência de um sentimento coletivo de baixa autoestima, é a sua
argamassa.
Fazer da descrença no
país, em suas lideranças, no Estado e organizações sociais um
acontecimento de natureza política e econômica, o vigamento
superior.
Naturalizar esse jogral
a ponto torna-lo uma profecia autorrealizável, a cumeeira do
processo.
Leve tudo ao forno da
inquietação social movida a denuncismo e vaticínios de desastre
iminente no desempenho do PIB e dos índices de inflação.
Não importa que os
resultados do mês em curso os desmintam.
O núcleo duro dessa
usina de sombras e abismos é afinado por um jogral de pluralidade
ideológica irrisória.
Em entrevista recente,
o colunista do Estadão, José Paulo Kupfer, admite o viés que afina
o noticiário econômico:
‘Fiz uma pesquisa de
fontes em alguns principais jornais: Estadão, O Globo, Folha. Captei
500 participações. 85% das citações eram de consultorias,
departamentos de economia (alinhados) a escolas neoliberais. Fica
tudo com uma visão só”, afirmou.
Como enfrentar essa
guarda pretoriana sem um antídoto da envergadura daquele ostentado
pelo projeto da ‘Russia Today’?
Difícil.
O PIB do segundo
trimestre revelou uma taxa de investimento ainda abaixo dos 20% ,
tido como um requisito para acelerar a máquina do crescimento.
Mas cravou 18,6%, em
ascensão, tendo como pano de fundo cerca de R$ 3,8 trilhões em
novos projetos investimentos privados e grandes obras de
infraestrutura.
A previsão é do BNDES
para o período 2014 e 2018.
O valor, apreciável em
qualquer latitude do globo, separa a linha entre o país viável e
aquele cronicamente inviável , disseminado pelo jogral dos ‘ 85%’
identificados por Kupfer.
Não só. O conjunto
incide sobre um mercado de 200 milhões de habitantes.
Significa que o país
tem hoje uma população equivalente a dos EUA nos anos 70. E uma
renda pouco superior a 1/3 daquela dos norte-americanos nos anos 30.
Com uma distinção
dinâmica não negligenciável.
A distribuição, no
caso brasileiro, é melhor que a registrada na sociedade
norte-americana, atropelada então por 14 milhões de desempregados
da crise de 29.
Essa obra prima dos
livres mercados é um pouco o que a turma dos ‘85%’ quer
ressuscitar no Brasil do século 21.
Precisa para isso
torturar de morte ingredientes dificilmente compatíveis com a sua
receita de nação: uma população jovem, uma imensa demanda não
atendida, trilhões de reais mobilizáveis e recursos estratégicos
abundantes, a exemplo do pré-sal.
A macroeconomia pura e
simples jamais diria que estamos diante dos ingredientes de um
fracasso, como aquele vaticinado dia e noite pela emissão
conservadora.
Mas a guerra das
expectativas pode matar uma Nação.
Se conseguir
convencê-la a rastejar por debaixo de suas possibilidades
históricas.
Postado por Saul Leblon
às 08:2
Fonte: AGÊNCIA CARTA MAIOR
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